Após ter atendimento recusado na UPH da Zona Oeste, adolescente morre na UPH da Itavuvu

- 26/08/2016 às 13:42
- Atualizado 12/09/2022 às 13:42
Michele Soares Silva, que residia em Iperó e já havia sido atendida em UBS de George Oetterer, teve atendimento recusado por ter doze anos
A Rua Canadá, no bairro George Oetterer, está triste como, talvez, nunca esteve. A família da adolescente Michele Soares Silva, que reside na via, está ainda mais triste, com certeza, como jamais pensaria estar. Consternado com a saudade e revoltado com a situação, a qual a família considera como falha do atendimento médico de unidades de saúde de Iperó e Sorocaba, o tio de Michele, João Ramos Batista falou com a reportagem do Jornal Z Norte na quinta-feira (25).
“O médico deu um toque na barriga dela e falou que era “gases”, passou uma receita e mandou ela para casa. Quando foi a noite, ela passou mal de novo. Aí, o meu vizinho levou ela naquele hospital da (Avenida) General Carneiro”, diz se referindo a Unidade Pré Hospitalar da Zona Oeste. “Ela já estava vomitando, com o corpo mole e com a boca roxa. Simplesmente, eles nem olharam ela. Disseram que não iam atender porque ela tinha doze anos. Disseram que lá não atendiam essa idade e mandaram que ela fosse levada para o “PA” da Itavuvu. Isso é omissão de socorro”, alega. “Só a atendente viu a menina. Aí fomos para a Itavuvu”, conta Oritelino Martins de Sousa, testemunha de toda peregrinação da família de Michele.
Na sequência, conta João, Michele, que era conduzida no carro do vizinho, se dirigiu para a UPH da Zona Norte, onde foi atendida de imediato. Porém, ela faleceu por volta das 4h. A passagem pela UPH da Zona Oeste ocorreu por volta das 2h. No entanto, referente à UPH da Zona Norte, o tio reclama de que o médico se recusou a informar quais eram as causas da morte. João ainda explicou porque Michele foi transferida de Iperó para Sorocaba em um carro particular. “A ambulância poderia demorar uma hora. Geralmente demora muito”, diz.
João garante ainda que a família acionará a justiça com relação ao caso. “Vamos procurar a justiça para as duas cidades. Enxergamos que houve dois erros. Acho que em Iperó, teriam que ter examinado ela melhor ou mandando a menina para algum lugar mais adequado”, opina. “Na ‘General Carneiro’ sequer olharam para a menina. Isso que aconteceu poderia ser diferente. Só falaram que não atendiam lá porque ela tinha doze anos e lá só atendia até dez”, lembra. “Eles deveriam pelo menos avaliar a situação dela, pedir uma ambulância, uma equipe médica e transferir ou cuidar da menina”, desabafa. “O sentimento é de revolta. A perda é muito grande. Isso não vai trazer ela de volta, mas precisamos evitar que isso ocorra novamente”, diz. “Por causa deles, ela não está aqui conosco. É muito triste”, fala emocionado.
A base de calmante, a mãe de Michele, Rosileine Soares Silva, não pôde falar com a reportagem. “Ela está muito abalada. Tomou os medicamentos e está dormindo”, explica João.
O remédio receitado na UBS de Iperó foi o Plasil, indicado, principalmente, para casos de náuseas e vômitos. A causa da morte, conforme declaração de óbito, é edema pulmonar, insuficiência renal e malformação renal.
Caso será investigado por municípios
A Secretaria de Saúde de Sorocaba informou nesta quinta-feira (25) que apura os acontecimentos quanto ao caso e que, de antemão, abriu procedimento com essa finalidade, via Ouvidoria da Saúde.
A Secretaria de Saúde de Iperó também se pronunciou sobre o caso. Em nota, informa que a paciente foi atendida na UBS de George Oetterer no último dia 23 e, acompanhada pela mãe, foi acolhida pela enfermagem às 16h e às 16h30 foi atendida pelo médico. “No momento do atendimento se queixou de dor de cabeça e dor abdominal, além de relatar que há uma semana havia apresentado sangramento nasal. A paciente negou febre, vômito ou diarreia. Durante o exame físico não havia sinais clínicos positivos que sugerisse uma patologia aguda”, diz a nota. “O atendimento clínico é sempre fundamentado em evidências. E naquele momento, diante das constatações, não havia motivo para encaminhamento ou mesmo para exames complementares”, explica.
Por fim, a Prefeitura afirmou que “está à disposição e ressalta que, juntamente com o Comitê de Mortalidade do município, está verificando e levantando todos os detalhes a respeito do fato ocorrido, tanto na UBS de George Oetterer, quando na unidade Zona Norte, de Sorocaba.”