Casal denuncia prática de homofobia no PA Laranjeiras; Enfermeira teria dito que iria ‘chamar o Bolsonaro’ para paciente

- 26/11/2018 às 14:42
- Atualizado 12/09/2022 às 14:42
Um casal de Sorocaba denunciou uma funcionária do Pronto Atendimento (PA) do Laranjeiras pela prática de homofobia na última sexta-feira (23). O caso ocorreu após um dos homens ter questionado a demora na aplicação da medicação no companheiro. Segundo ele, a enfermeira o tratou de forma desrespeitosa e disse que iria “chamar o Bolsonaro”, ato visto como homofóbico pelo casal. Eles abriram uma reclamação junto à Ouvidoria da Secretaria de Saúde, que lamentou por “qualquer postura ríspida” por parte de funcionários da pasta e disse que a denúncia será investigada.
Danilo Bezerra foi ao PA Laranjeiras por volta de 10h30, acompanhado do companheiro Wellington Santos, apresentando um quadro de febre, inflamação na garganta e dores pelo corpo. Segundo informações de Wellington, ele passou pelo primeiro atendimento de modo rápido, em cerca de 20 minutos, sendo encaminhado para o setor de medicação. Após esperar por mais 20 minutos, Wellington foi questionar sobre a demora com duas funcionárias que estavam sentadas, uma delas utilizando o telefone celular.
“A moça levantou, muito educada, e foi procurar a ficha para ajudar. De repente veio uma outra auxiliar da observação, chegou falando sobre um paciente que estava internado lá, afirmando que o ‘fedidinho que estava na observação tinha que sair de lá. Os pacientes que estavam ali esperando ficaram indignados”, disse.
Na sequência, segundo Wellington, a auxiliar começou a chamar outras fichas, mas não seu companheiro. Quando foi questioná-la, ela começou a gritar. “Não é na hora que vocês querem, não vou passar ninguém na frente”, teria afirmado. Ele insistiu, dizendo que as fichas eram de pacientes que haviam chegado depois de seu companheiro. A funcionária começou a gritar, segundo Wellington, o que o fez procurar a coordenação da unidade.
Como o coordenador não pode atendê-lo, ele voltou à sala de espera, quando novamente foi abordado pela funcionária. Ele questionou a atitude da funcionária, de falar mal do outro paciente, e ouviu dela que ela “poderia falar mal de quem quisesse”.
Segundo ele, após isso, a funcionária falou para Danilo, sem saber que ele era o seu companheiro, que iria “chamar o Bolsonaro que aí ele já vai ver”. “Ela falou isso porque sabia que eu era gay. Ela continuou batendo boca comigo, e os moradores ficaram revoltados com a atitude, porque não fui desrespeitoso com ela em nenhum momento”, explicou Wellington.
Após uma hora, o coordenador da unidade conversou com o morador. Ele o aconselhou a procurar a Ouvidoria da Saúde mas, segundo Wellington, não falou em nenhuma atitude a ser tomada. “Ou seja, as coisas vão acontecendo e ninguém toma atitude nenhuma”, comentou.
Apesar de ainda não ser tipificada como crime no Brasil, o estado de São Paulo tem, desde 2001, uma lei que dispõe sobre as penas contra prática de discriminação em razão de identidade sexual e de gênero. Para realizar a apuração, a secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania tem um serviço online de denúncias.
O Jornal Z Norte conversou com pacientes presentes na unidade, que não quiseram se identificar, mas confirmaram a versão contada por Wellington.
A Secretaria da Saúde (SES) afirmou à reportagem do Jornal Z Norte que a coordenação da unidade orientou o paciente para que registrasse sua notificação através do canal da Ouvidoria da Saúde. Por meio desse registro, será investigado para que as devidas providências sejam tomadas.
Segundo a pasta, o atendimento total durou das 11h24 às 12h27, com o paciente sendo submetido a atendimento médico, ser medicado e receber atestado de afastamento de um dia do trabalho.
Ainda segundo a nota, a secretaria de Saúde “lamenta qualquer postura ríspida por parte dos servidores e ressalta a importância da população receber uma assistência de qualidade na Rede Pública Municipal de Saúde”. A secretaria também orienta que em casos de reclamação, elogio ou sugestão, que os munícipes registrem a ocorrência através da Ouvidoria da Saúde pelo telefone 156 ou pelo site: http://www.sorocaba.sp.gov.br/atendimento/#/Home/Solicitacao.