Respeitável Público! Com a palavra, quem faz os espetáculos do Tihany, o terceiro maior circo do mundo

- 24/09/2014 às 16:02
- Atualizado 12/09/2022 às 16:02
“O artista necessita de seu alimento, que é o retorno do público. Um aplauso nos alimenta, nos faz feliz. Quem se considera um artista, seja mágico, cantor, acrobata, precisa de salário para o alimento físico, mas precisa do aplauso para alimentar a alma”. Com essas palavras, Richard Massone, que está há mais de trinta e cinco no Tihany, o terceiro maior circo do mundo, abre a entrevista ao Jornal Z Norte, cuja intenção é mostrar quem são os artistas que fazem do Tihany, um circo espetacular.
“A gente sempre vibra com o público. Quando estamos no palco sentimos uma sensação muito agradável de estar com o público e mesmo passando os anos continua comum esse feito, mesmo com a experiência que a gente adquire”, diz Richard.
O ilusionista, que apresenta no espetáculo AbraKdabra e faz aparecer um helicóptero no palco, todo iluminado, ou mesmo desaparecer ou aparecer belas mulheres e 50 artistas que participam no show, fala de como é se dividir entre a arte e a administração do circo. “É muito mais difícil administrar do que estar no palco fazendo aparecer e desaparecer. Desde criança sempre quis estar no palco, entretendo as pessoas, levando a magia. Agora a parte administrativa se torna um pouco mais tedioso, especialmente numa organização como a Tihany. É um circo muito grande, que tem muitos funcionários. Mas o tempo nos faz trabalhar mais a vontade, especialmente com a interatividade com o público. Quando estou lá (no palco) esqueço a parte técnica. Naquele momento eu sou apenas o mágico. Aqui na administração eu tenho que ver o que os outros não veem. É o contrário do que ocorre no palco. No show são minutos, na administração são várias horas diárias. Estamos sempre avançando com a tecnologia e com novas apresentações. O mundo anda muito rápido e a gente precisa acompanhar”, explica. Richard também fala como será o circo no futuro. “São quase cem unidades entre carretas e caminhões, camionetes e trailers. Isso custa mais trabalho. E com certeza em trinta e cinco anos haverá novas apresentações, como sempre fazemos. As nossas apresentações são novidades, coisas novas vindas de Las Vegas.”, termina o sucessor do mágico Tihany, que acaba de completar 98 anos e está aposentado em Miami.
O figurino é parte indispensável de todo o espetáculo. E esse trabalho fica a cargo da equipe de Francis Demarteau, ex-artista de patinação em gelo no Lido de Paris e ex-coreógrafo do Holiday on ice. Além de diretor artístico, Francis Demarteau é designer, coreógrafo e responsável pela seleção das músicas. Ele é um designer do music hall europeu e, entre tantas coisas, criou vestuários para o Moulin Rouge de Paris. Francis não lembra um trabalho especifico que o tenha marcado. Isso se dá ao fato de que ele considera todos de extrema importância. “Todos os trabalhos foram importantes e em cada um deles colocamos muito engajamento e muito amor”, ressalta.
AbraKadabra foi criado por ele. A sala de costura é, na verdade, a carroceria de uma das carretas. A equipe de costureiras conta com quatro profissionais que também atuam como bailarinas ou ex-bailarinas. No espetáculo AbraKadabra, são cerca de mil figurinos. “Se é difícil tentamos de novo. Insistimos até conseguir. Sobre as peças, se eu gostar, o público também vai gostar”, brinca.
Os figurinos são inspirados em espetáculos de Las Vegas, nos Estados Unidos. Nas apresentações são usados um milhão de lantejoulas, cinco mil metros de tecidos, quatorze mil plumas, trinta mil pedras de strass, quatrocentos pares de sapato, cento e trinta perucas, duzentos e oitenta figurinos (roupas), cento e vinte enfeites, além de duzentos e cinquenta chapéus e cento e cinquenta mil pedras brilhantes.
Claro que num espetáculo dessa grandiosidade não poderia faltar o talento brasileiro. “No circo eu nunca imaginei trabalhar. Sempre imaginei trabalhar viajando em um cruzeiro, por exemplo. Quando surgiu a oportunidade eu agarrei com unhas e dentes”, explica a potiguar Aryelle Freitas, que durante 15 dias, antes de entrar para o corpo de artistas, recepcionou o público na entrada do circo e, do lado de fora, não assistia ao espetáculo. Até que foi solicitada para atuar como orientadora de público, na plateia. Quando assistiu ao espetáculo AbraKadabra pela primeira vez, ficou encantada. Não conseguia tirar os olhos do palco. Deslumbrada, comentou com a sua coordenadora na época, Valda, que era bailarina profissional e que seu sonho era participar do corpo de baile do circo. “O público representa para mim gratidão. Fico muito feliz em ver os resultados, mesmo quando vou fazer alguma coisa nova. O que me deixa nervosa, mas nunca com medo”, relata.
Outra estrela do Tihany é carioca. “Na verdade eu sempre fiz esporte desde criança. Minha mãe sempre incentivava. Ela me colocou num programa lá no Rio. Eu fui gostando. Foi onde começou a coisa. Já trabalhei em outro circo como acrobata, também. Mas aqui é um circo lindo, com glamour e com magia”, explica Cochise Monteiro, de 22 anos, acrobata. “Quando a plateia fica emocionada a gente se emociona também”, finaliza.
O príncipe dos palhaços, Henry Ayalla, revela que o medo é algo que ele já aprendeu a dominar. “O medo que pode acontecer com um palhaço, com um cômico é que a plateia pode não rir. Isso pode assustar. Mas eu quando entro no palco não penso nisso. Graças a Deus, quando entro no palco vejo as pessoas alegres e contentes. Sinto que elas esquecem um pouco os problemas”, revela. “Eu rio muito quando vejo gente ficando alegre. São os momentos que sinto que fiz o meu trabalho bem”, continua. “Eu sou muito tranquilo antes do show. Faltando dez, quinze minutos, eu vou entrando no meu personagem, preparando o figurino e a maquiagem. Aí é que eu começo a analisar o que vou fazer no show. Quando estou no palco tem muita adrenalina, mas antes, sou muito relaxado”, descreve.
“Levou mais de dez anos para chegar ao personagem atual. Hoje tenho uma maquiagem, um penteado, diferente de tudo que há no mundo do circo. É um show feito com muito amor, com muita dedicação. É muito mais que circo. Meu trabalho tem como inspiração Charles Chaplin. Por isso, meu humor é muito puro, é muito limpo”, termina o venezuelano naturalizado inglês.
Henry Ayala Junior, sem verbalizar uma só palavra, domina e interage com o público nas três intervenções que apresenta durante o espetáculo (pipoca, sinos e macarrão), arrancando aplausos e gargalhadas da plateia. Na Europa, colecionou prêmios nos festivais de circo de Budapeste (Hungria), Liège (Bélgica), Roma (Itália) e Valença (Espanha), entre outros. Toda sua família é circense.
Por isso tudo, com a devida licença de Richard Massone, é preciso esclarecer que não somos nós que alimentamos a alma deles, os artistas. São eles que alimentam a nossa.