Sorocaba registrou 13 acidentes e incidentes graves com aviões desde 2008, diz Cenipa

- 07/04/2017 às 14:40
- Atualizado 12/09/2022 às 14:40
A maior parte dos casos que incluem perda de controle em vôo e até colisão entre aeronaves não teve repercussão e fazem parte apenas de estatísticas
Sorocaba registrou treze acidentes ou incidentes graves com aviões entre julho de 2008 e setembro de 2016. As informações fazem parte de um levantamento do Z Norte com base no Relatório de Ocorrências Aeronáuticas na Aviação Civil Brasileira do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), disponibilizados pelo Dataset, no site do Ministério do Planejamento. As informações não incluem o acidente de sexta-feira (31), quando morreram duas pessoas após queda no bairro Novo Horizonte, bem como os eventos de menor gravidade entre setembro do ano passado e março deste ano.
De acordo com as informações, foram diversas as naturezas das ocorrências dentro do espaço aéreo de Sorocaba. Dentro desse período, conforme o relatório do Cenipa, somente com relação ao chamado pouso brusco foram três ocorrências sendo a primeira delas registrada no dia 08 de julho de 2008. O segundo caso foi registrado no dia 1º de abril de 2009 e o último em 5 de dezembro de 2013.
Foram registrados também dois casos de perda de controle, sendo um caso em vôo e outro em solo. Os casos foram registrados em 19 de março de 2012 e em 21 de fevereiro de 2014, respectivamente.
O relatório do Cenipa traz ainda a informação de que em 1º de fevereiro de 2014 houve uma colisão entre aeronaves. A situação ocorreu dentro do aeroporto e envolveu uma aeronave de pequeno porte e um helicóptero. Não houve danos e nem vítimas.
Os dados do Cenipa mostram ainda dois casos de falha de motor em vôo. A primeira situação foi registrada em 06 de agosto de 2008. O segundo caso, bem mais grave, ocorreu em 29 de maio de 2013. Trata-se do caso do acidente aéreo ocorrido no bairro São Guilherme, cuja tragédia matou o piloto Cauan Nichelimi e o copiloto Fernando Bondezan Moreira.
Houve ainda um caso de pouso fora da pista e um caso apenas registrado como “outros”, além de um caso registrado apenas como “com rotor” (relacionado a helicóptero). Para finalizar, há outro caso envolvendo problemas com trem de pouso.
Dentro de todos esses casos, cinco deles já foram finalizados, quatro estão ativos e três aparecem como “a definir.”
As informações ao Cenipa são alimentadas com base em dados do SERIPA 4 (Serviço Regionail de Investigação e Prevenção de Acidentes da 4ª Região), que abrange os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e está localizado no aeroporto Campo de Marte, em São Paulo.
O relatório do Cenipa não traz informações ou qualquer referência a um pouso de barriga ocorrido no aeroporto, conforme noticiado em 27 de outubro de 2010.
Os casos mais graves
Além do caso do bairro São Guilherme, em se tratando dos mais graves a partir do ano 2000, uma das maiores tragédias foi registrada no bairro que fica no prolongamento da pista do aeroporto, na região da Avenida Ipanema. Na tragédia, o piloto José Carlos Pecci morreu na hora. Outras duas pessoas ficaram feridas.
No caso do acidente aéreo com vítimas fatais em Sorocaba, ocorrido na sexta-feira (31), situação em que morreram Milton José Cardille e Jumara Nogueira Vieira, segue em investigação pelo Cenipa.
Especialistas comentam números do Cenipa e dizem que situação em Sorocaba é segura
Os treze casos de acidentes ou incidentes graves registrados em Sorocaba entre 2008 e 2016 não representam motivo de alarde ou preocupação. Ao menos é isso que defendem Ricardo Zafra e Frederico Catto Rezende, especialistas em aviação. Na quarta-feira (5) eles explanaram sobre os dados do Cenipa a pedido da reportagem. Ricardo é coordenador do curso de mecânica de aviação da Wings e técnico em manutenção aeronáutica, além de ter feito parte do Cenipa até 2000 como elemento credenciado nível manutenção. Frederico é piloto com pós-graduação em segurança de aviação pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).
A pedido da reportagem, eles pontuaram sobre alguns dos temas descritos nos casos demonstrados no relatório do centro de prevenção e investigação.
Perda de controle – “A perda de controle pode acontecer durante a decolagem, durante um pouso, ela pode estar associada ao fator meteorológico, um vento cruzado, por exemplo. Pode ser na fase de adestramento de piloto e pode ser por um problema de falta de manutenção da aeronave”, explica Ricardo. “A gente perde o controle do carro quando estoura o pneu, então imagine de uma aeronave”, acrescenta Frederico, ou Fred, como ele costuma ser chamado. No caso da perda de controle em vôo o fato pode ocorrer, por exemplo, por um travamento de comando. “Você pode ter um travamento ocasionado pelo choque com uma ave”, exemplifica o piloto. “Aqui em Sorocaba o problema existe, mas não é tão significativo”, diz. “Você pode ter problema com um cabo que se rompe, ou a aeronave perder sustentação”, comenta Ricardo.
Falha de motor – conforme Frederico, esse tipo de situação é praticamente inexistentes. De acordo com ele, há outras situações que podem fazer com o que o motor falhe, como, por exemplo, uma bomba que combustível que seja incompatível com o sistema. Ele ressalta que o motor deve passar por suas manutenções periódicas para manter sua vida útil.
Pouso brusco – com relação ao pouso brusco, Frederico explica que o caso só é contabilizado quando há dano para a aeronave, fato que também pode ser provado por uma tesoura de vento. “Pode ser que a aeronave esteja muito próxima do solo e não haja tempo hábil para reação”, diz. Há outras variáveis, segundo ele.
Pouso sem trem de pouso – um dos casos em Sorocaba registrado em 2010 é de um avião de pequeno porte que pousou de barriga. “Toda aeronave com trem de pouso retrátil tem mecanismo para avisar o piloto. Às vezes, por motivos diversos, o piloto pousa a aeronave sem o trem”, conta. Ricardo lembra que a situação é quase zero em grandes companhias aéreas, quando há piloto e co-piloto. Em todos os casos, há um sistema principal e um sistema de emergência para o acionamento do equipamento.
A dupla destacou a importância e a necessidade dos trabalhos de investigação nos casos acidentes aéreos, incluindo os sem vítimas. “Por simples que seja, a investigação gera prevenção”, alega Ricardo. “Não dá para a gente mensurar, mas graças as investigações de acidentes que ocorreram que milhares de outros foram evitados”, completa Ricardo.
Por fim, eles falam sobre o aeroporto de Sorocaba e sobre o número de ocorrências registradas no período divulgado pelo Cenipa. “A pista de Sorocaba é excelente e segura. O que aconteceu foi uma fatalidade”, explana Frederico. “A questão é estatística. A gente tira como base o número de pouso e decolagens e o número de acidentes”, conclui Ricardo.
Tragédia do dia 31
Ricardo ainda fala sobre uma das hipóteses que provocou o acidente na sexta-feira (31). De acordo com ele, a questão da pane-seca, situação citada especialmente no dia do acidente, ainda pode sofrer variantes que podem isentar o piloto e o planejamento de vôo, como, por exemplo, um vazamento. ”É muito fácil você atribuir ao piloto, que já morreu e não pode se defender”, diz. “É preciso ver, por exemplo, para saber se houve problema com uma bomba”, diz Frederico.
Cobertura
Em maio de 2013, na ocasião do acidente no bairro São Guilherme, o Z Norte foi o primeiro veículo a dar a informação através da sua página no Facebook. Na sexta-feira, na tragédia do Novo Horizonte, o Z Norte foi o primeiro veículo a transmitir ao vivo direto do local através de live do Facebook. Foram várias publicações do local, sendo que somente uma delas atingiu mais de 100 mil pessoas.
Um avião pousa ou decola do aeroporto de Sorocaba a cada dez minutos
Evidentemente que o movimento é maior durante o dia, no entanto, em média em 24h uma aeronave decola ou pousa do Aeroporto estadual Bertram Luiz Leupolz, o aeroporto de Sorocaba, a cada dez minutos. As informações são do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (Daesp) referente aos doze meses de 2016.
De acordo com as informações, foram 53.470 pousos e decolagens durante todo o ano passado, ou seja, cerca de 146 por dia. Uma das explicações para o movimento é o fato de que Sorocaba é uma das referências nacionais quando assunto é manutenção de aeronaves.
Somente em fevereiro deste ano foram 4.483 pousos e decolagens, ainda conforme os dados do Daesp. No acumulado deste ano são 8.079 registrados no aeroporto. Já os passageiros transportados somaram 4.036. O movimento é menor que o registrado em 2015, quando houve mais de 61 mil pousos e decolagens.