Sorocaba dá passos importantes visando igualdade de direitos à população LGBT

Sorocaba dá passos importantes visando igualdade de direitos à população LGBT Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 15/08/2018 às 08:28
  • Atualizado 12/09/2022 às 08:28
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“Tudo começou quando passei a entender que tinha alguma coisa diferente comigo. Eu estava com 12 anos e percebi que fazia tudo o que as outras garotas da minha idade faziam, mas, eu não sentia a mesma coisa que elas, parecia que eu estava fazendo alguma coisa errada”. Foi através desses primeiros sentimentos, que Antôni Gabriel da Silva, de 20 anos de idade, começou a se identificar como um menino trans.

O início foi complicado. A fase de autoaceitação trouxe muito receio ao jovem. “Eu lia sobre pessoas trans e era uma coisa que me identificava, mas eu fugia porque sabia o que ia acontecer e não queria passar por aquilo. Eu achava que não era forte o suficiente pra aguentar tudo o que a sociedade colocaria nas minhas costas, então engolia aquelas dores sozinho”, relata o jovem.

Mudanças constantes foram acontecendo pouco a pouco na vida de Antôni, os cabelos longos se transformaram em curtos e as roupas masculinas passaram a ser suas preferidas. “Onde quer que eu ía todo mundo achava que eu era um menino e eu gostava dessa ideia porque era assim que me sentia”.

Antôni conta que apesar dessas pequenas transformações, o que mais o incomodava era o seu corpo. “Eu não estava bem psicologicamente com meu corpo, já não suportava mais me ver daquela forma. Eu tomava banho no escuro porque não conseguia olhar pro meu corpo. Hoje em dia eu respeito meu corpo, ele não é do jeito que eu quero, mas eu entendo que as mudanças vêm com o tempo e que preciso ter paciência”. Além disso, na época, o jovem passou por muitos problemas com a sua mãe e com as pessoas que faziam parte do seu cotidiano. “Elas não me tratavam como eu me via”, desabafa.

Cidade acolhedora

Sorocaba é acolhedora e a diversidade sexual é uma questão tratada com respeito. Para isso, a Prefeitura desenvolve diferentes mecanismos de valorização e inserção de todos os públicos na sociedade e nas ações do governo.

Vinculado à Secretaria de Cidadania e Participação Popular (Secid), foi criado, no início da administração do prefeito José Crespo, um órgão de articulação entre o Poder Público e a Sociedade Civil denominado Conselho Municipal dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). O conselho busca estimular a formulação e a proposição de diretrizes de atuação governamental voltadas para o combate à discriminação e para a promoção de defesa de direitos. Esta foi uma das primeiras determinações de Crespo ao assumir seu cargo.

De acordo com a presidente do Conselho, Luciana Leme dos Santos, este é um canal que permite o fortalecimento da participação desta comunidade nas ações públicas. “Os objetivos, dentre vários, são os de contemplar a nossa comunidade LGBT visando às políticas públicas em nosso município, dar visibilidade a cada identidade, criar espaço de escuta, protocolo de denúncia contra a violência paracombater a LGBTfobia no município e publicizar direitos”.

A criação deste grupo é uma grande conquista na luta por visibilidade e garantia dos direitos do movimento LGBT na cidade de Sorocaba. “Poucas cidades no Brasil possuem um conselho como este”, declara a vice-presidente do conselho, Vivian Machado.

Acolhimento dos jovens

Trocar experiências através de uma descontraída roda de conversas é o objetivo dos encontros realizados pelo Grupo de Apoio à Diversidade Sexual (GADS), que acolhe e reúne jovens homossexuais e transgêneros, para debater questões voltadas aos seus interesses. “É um grupo de ajuda mútua que possui extrema importância”, declara a responsável pela Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual da Secid, Rogéria Fernandes do Nascimento.

Leandro da Silva Martins está à frente do grupo há pouco mais de um ano e se sente satisfeito em poder ajudar os jovens. “Ali (nos encontros) nós conseguimos empoderá-los para que eles se tornem protagonistas das suas histórias”, conta.

A motivação para participar do grupo aconteceu no momento em que Leandro assumiu a homossexualidade para seus pais. “Eu acabei confessando e foi a hora que a minha mãe me falou ‘se você quer continuar com essa sua vida homossexual, você vai viver isso da porta pra fora’. Eu peguei minhas coisas e saí de casa. Foi muito triste porque quem estava sempre ao meu lado eram os meus pais e principalmente a minha mãe, para mim foi um choque”, lembra.

Sem o amparo dos pais, o grupo foi o seu refúgio. “O GADS me ajudou e me deu um grande suporte. Posso dizer que sou imensamente grato por essa política pública que Sorocaba desenvolve há cinco anos, ela me salvou no momento em que eu estava fragilizado”.

Participante do GADS há seis meses, Antôni também fala sobre sua experiência no grupo. “Me ajudou a ter paciência e a melhorar a minha autoestima. No grupo eu tinha voz para falar das minhas experiências boas e ruins. É muito bom ver como as pessoas crescem e evoluem no grupo”, conta.

O bate-papo – que é administrado pela Secid – acontece duas vezes, o primeiro é na segunda terça-feira de cada mês, das 19h30 às 21h, para tratar sobre a transexualidade e o segundo é realizado na terceira terça-feira, no mesmo horário, quando são discutidos temas relacionados às dificuldades no cotidiano, na família e no emprego. “Nós procuramos deixar os participantes à vontade. Usamos o grupo para quebrar os mitos e os tabus sobre os assuntos relacionados à temática LGBT”, explica Leandro.

Para participar dos encontros – que acontecem em espaços determinados pela Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual – não é necessário realizar inscrição prévia. Mais informações pelo telefone (15) 3238-2236.

Apoio aos pais

Outro trabalho desenvolvido no município é o Grupo de Apoio aos Pais de Jovens LGBTs, conhecido como GPH, que oferece um espaço de acolhimento e de troca de informações aos pais que estão na busca pela aceitação de seus filhos.

Este grupo foi criado em 1997, em São Paulo, pela escritora e pesquisadora, Edith Modesto, quando um de seus filhos revelou ser homossexual. Em 2013, o projeto chegou a Sorocaba para reunir pessoas que estivessem passando pela mesma situação. “O objetivo é fortalecer os pais para que eles possam aceitar e ajudar os seus filhos”, explica Selma Aparecida Catto Rezende, mãe facilitadora do grupo no município.

Selma conta que o grupo é receptivo com novos integrantes. “Quando chegam novos participantes, fazemos uma dinâmica na qual cada um conta sua história para poder dar forças à pessoa, que, normalmente, chega bastante emocionada”.

As reuniões acontecem toda terceira terça-feira de cada mês, das 19h30 às 21h, em locais definidos pela Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual. O grupo é reservado, ou seja, só podem participar pais ou responsáveis por jovens LGBTs. Informações pelo telefone (15) 3238-2236.

Primeira união homoafetiva

O casamento é uma união entre pessoas que desejam construir uma nova vida. Em maio deste ano, o Fundo Social de Solidariedade (FSS) de Sorocaba, realizou no dia 26 de maio, o tão esperado Casamento Comunitário, que reuniu 80 casais e contou com a participação do prefeito José Crespo e da primeira-dama e presidente do FSS, Lilian Crespo.

Na ocasião, pela primeira vez, foi celebrada uma união homoafetiva entre parceiros do gênero masculino: o atendente acadêmico Salatiel de Sousa Pessoa e o cabeleireiro Sérgio Marcos Silveira, juntos há quase cinco anos. “Nós sempre vivemos bem. Temos um vínculo muito bacana”, disse Sérgio.

A relação dos dois começou por meio da internet, em um site de relacionamento, onde trocavam mensagens e marcavam encontros. “Nos apaixonamos desde que saímos pela primeira vez e estamos juntos até hoje”, conta.

Graças aos parceiros, o Casamento Comunitário não teve custo ao poder público e nem aos casais participantes. “Este projeto é maravilhoso e nos ajudou muito. Foi uma oportunidade de poder realizar um sonho sem precisar gastar”, comemora Sérgio. Além disso, o cabeleireiro recorda de como o casal foi bem recebido e abraçado pela organização e por todos os casais. “Fomos muito bem tratados por todos. Sentimos uma emoção muito bacana em participar desta cerimônia”, lembra.

Parada do Orgulho LGBT de Sorocaba

Outra forma da busca dos direitos é através da Parada do Orgulho LGBT, que é organizada pela Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de Sorocaba (APOGLBT SOR) e recebe o apoio da Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur).

Este movimento foi criado em 2005 e era liderado por travestis que buscavam o respeito da sociedade.No ano seguinte, o evento, que passou a ser administrado pelo militante Paulo Lamarca, entrou em evidência ao conquistar grande participação do público. Em 2008, a organização do movimento passou a ser feita pelo militante Dennys Sbizera, que permanece até hoje. De acordo com o organizador, opúblico aumenta a cada ano. “Hoje participam cerca de 15 mil pessoas”, conta.

Sbizera ainda explica que o evento recebe trios elétricos, banheiros químicos, estrutura operacional, segurança, ambulância, DJs, drag queens, apresentadores, cantores, entre outras atrações.

Para entrar no clima das eleições – que acontecem em outubro – a edição da Parada do Orgulho LGBTdeste ano tem como tema “Nosso Voto é Nossa Luta – Por democracia, direitos humanos e políticas públicas LGBT.” O evento será realizado no dia 26 de agosto, com concentração a partir das 12h, na Praça Frei Baraúna, no Centro.