Queda de avião no São Guilherme completará dois anos e família ainda espera decisão da justiça

Queda de avião no São Guilherme completará dois anos e família ainda espera decisão da justiça Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 03/04/2015 às 13:23
  • Atualizado 12/09/2022 às 13:23
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No dia 29 do mês que vem completará dois anos da queda do avião experimental de pequeno porte ocorrido na Rua Belmiro Moreira Sales, no Jardim São Guilherme. Uma tragédia que chocou Sorocaba. Duas pessoas morreram. Na data, completará igual período que o casal Daisy Alves de Oliveira e Miguel Aparecido Galdino está praticamente sem casa e sem qualquer respaldo da empresa responsável pelo avião.

Era tarde de 30 de maio de 2013 e a comerciária trabalhava em uma loja no centro da cidade. Alguns quilômetros do local, no distrito industrial, o marido também desenvolvia suas atividades normalmente. Era um dia como outro qualquer, mas por volta das 15h30 tudo mudou. Daisy foi surpreendida em seu serviço com a informação de que um avião havia caído na região do São Guilherme. O mesmo aconteceu com Miguel. “Meu vizinho avisou que minha casa estava queimando. É um choque para você. Você não acredita, fica parado”, conta Miguel. Fazia cinco meses que eles moravam na residência, construída em 2013. “Quando cheguei, dei de cara com os destroços. Você deixa de comer para ter um lugar para morar. Você deixa um lazer para melhorar a casa e depois de alguns minutos estava tudo acabado”, se emociona. “Eu conheço muito bem o centro da cidade, trabalhava lá, mas no dia do acidente não conseguia lembrar de nenhum. Tive que vir de ônibus. Foi a  viagem mais longa da minha vida”, recorda Dayse. “Quando eu cheguei e olhei aquele monte de gente e a casa queimando, meu mundo caiu. Fiquei quatro dias sem dormir”, se diz a comerciária.

O casal foi forçado a muitas mudanças após o ocorrido. “Começou no primeiro dia. Não poderia entrar na hora. Dormi na casa da minha mãe naquele dia”, diz Dayse. “Mudou muita coisa. Começa pela casa. A gente mora no fundo. Não moramos mais na casa da frente”, explica Miguel. “A gente teve que trabalhar um pouco mais. Pintava hora extra, a gente fazia”, conta. “A sorte é que naquele dia eu tinha ido trabalhar de carro. Se ele tivesse ficado aqui, teria sido queimado também”, lembra Miguel. “É uma coisa que você não esquece. Tem hora que você pára e volta tudo aquilo de novo”, completa Dayse.

 

Justiça

Sem qualquer apoio financeiro, o casal espera a resolução do caso na justiça. “A gente está esperando a decisão da justiça. Eu não esperava que fosse tão demorado. A empresa nem nos procurou”, desabafa Miguel.

“A parte da frente foi trocada, refeita. Só não troquei o portão, porque não tive dinheiro”, conta. “Eu não estou no lugar errado. Minha casa não saiu para bater no avião. Foi um avião que caiu sobre minha casa. Por que tem que esperar tanto? Por que ser penalizado assim?”, questiona. “Ficamos mais de quinze dias dormindo na edícula aberta. Tive que ficar lá, sem porta e sem janela. Não havia luz e nem água. A parte elétrica, até hoje ainda carece de mudança”, relembra. “A gente não queria mais nada, só que devolvessem a casa do jeito que ela estava. Mas a empresa não nos procurou nem para isso”, conclui.

As lembranças da tragédia ainda estão vivas entre o casal. “Onde a gente olha, a gente lembra da tragédia. Se a gente olha o portão, lembra, se olha a calçada, também lembra. É muito complicado”, finaliza.

 

Os sobreviventes

Em meio a tanta angústia e dor, algo ainda conforta o casal. Do dia em que ocorreu a tragédia, dois animais da família estavam na residência. Dayse narra o caso com emoção. “A policial disse que não havia nada na casa, nem vivo e nem morto. Eu disse que alguma coisa deveria ter, nem que fosse o restinho dela”, explica com relação com a sua cadela Nina, que na ocasião tinha apenas alguns meses de vida. “Eu acho que ela se escondeu lá em cima com medo. Mas depois de um tempo ela apareceu. Ela estava normal. Deu vontade de esfregar na cara dela (da policial)”, brinca. Além de Nina, um pássaro também sobreviveu à tragédia.

 

Laudo

A morte dos pilotos Cauan Zuccolini Michelino, e Fernando Bondezan Moreira foi causada por politraumatismo e carbonização, de acordo com laudo do exame necroscópico do inquérito do caso. O documento foi registrado como homicídio doloso, ou seja, quando não existe intenção de matar. O laudo, porém não apontou os culpados pelo acidente.

A Paupedra – Pedreiras, Pavimentações e Construções – com sede em Guarulhos, que seria a responsável pelo avião, não retornou aos nossos contatos.