O perigo de ser mulher em Sorocaba e principalmente na Zona Norte

- 21/11/2019 às 18:15
- Atualizado 12/09/2022 às 18:15
“Ser mulher é mais perigoso no mundo e no Brasil principalmente. Em Sorocaba mais especificamente, pior ainda. Infelizmente só de nascer mulher já dá medo. Não é só medo de assalto, a gente tem medo da violência sexual principalmente, porque nós estamos sim mais vulneráveis. Por que um homem não arrasta outro para o fundo do mato, estupra e mata, mas com as mulheres eles fazem.” Esse é o duro relato da sorocabana Regiane dos Santos, 42, moradora do jardim Santa Madre Paulina, zona norte de Sorocaba. O medo relatado pela empresária não surge do nada, ele vem acompanhado de dados assustadores sobre violência sexual e feminicídio, que é homicídio cometido contra mulheres que é motivado por violência doméstica ou discriminação de gênero.
De acordo com informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado este ano, apenas em 2018 foram registrados em todo o território nacional 66.041 estupros consumados, em média 7,5 mulheres violentadas por hora. Ainda segundo o estudo, entre 2017 e 2018 o número de casos de feminicídio cresceu 4% atingindo o índice de 1206 vítimas.
Apenas em 2019, o Botão do Pânico -mecanismo municipal para coibir a violência doméstica contra mulheres- foi acionado em 234 ocasiões por mulheres. De acordo com informações da Prefeitura Municipal, a maior incidência de casos aconteceu na região da zona norte de Sorocaba. A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, a advogada Emanuela Barros, destaca que os casos de violência têm crescido principalmente na região da zona norte. “Eu tive acesso de dados de como cresceu a questão da violência na região do Parque Laranjeiras,” adianta a advogada.
A representante comenta sobre o crescimento da violência contra as mulheres na cidade e a necessidade de aumentar a efetividade de serviços prestados as vítimas. “A gente vive no país que tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo, são índices de epidemia. Nós temos em Sorocaba os equipamentos para coibir esse crescimento, como a Delegacia da Mulher, a primeira DDM do interior, nós temos um Centro de Referência da Mulher, que é raríssimo, nós temos um Juizado de Violência Doméstica, o primeiro do interior e um dos pouquíssimos do Brasil e uma casa abrigo. Nós temos os equipamentos públicos, mas falta uma efetividade para que essa violência seja coibida,” cobra a advogada.
Falta luz
A falta de iluminação é uma das demandas recorrentes entre moradoras da região da zona norte quando o assunto é o medo de ser mulher e ter que andar na região.
Paula Souza, é moradora do Jardim Eucalipto e conta um pouco sobre os perigos já enfrentados no local. “Esses tempos atrás eu estava voltando da igreja, era umas 21h. Eu passava entre os bairros Santa Paulina e Jardim Eucalipto. Eu e uma irmã da igreja vimos um homem se esconder atrás de um contêiner em uma obra toda aberta. De medo a gente teve que dar a volta na rua,” relembra Paula.
Para fugir do medo das ruas, quando podem, as mulheres da zona norte se protegem dentro dos carros, sempre com as janelas fechadas. “É aquela coisa, eu basicamente ando de carro, dificilmente ando a pé, mesmo no bairro. Só que e quem não tem?,” questiona Regiane.
Além da falta de iluminação, outra reclamação é a falta de policiamento na zona norte. A moradora do Santa Madre Paulina critica o patrulhamento nos bairros que só acontece para coibir os “pancadões.” “A segurança pública aqui no bairro não tem, não existe. Você não vê viatura aqui no bairro, hora nenhuma. Eles só vêm quando tem ocorrências,” relata a moradora.
Sobre a questão envolvendo os problemas de iluminação pública, a Prefeitura Municipal adiantou que qualquer cidadão pode solicitar reparos em pontos com defeito, através do canal 156. Questionada sobre a possibilidade de novos pontos, a Secretaria de Conservação, Serviços Públicos e Obras (Serpo) declarou que, no momento, não há previsão de implantação.
O perigo no ônibus
Se engana que as violências contra as mulheres têm um endereço ou local específico, seja em casa, na rua ou no ônibus, em todo os cantos elas estão expostas ao perigo. Segundo informações da URBES Trânsito e Transporte, só este ano foram registradas 14 ocorrências de importunação sexual nos ônibus de Sorocaba, desse total, 28% dos casos se deram na zona norte.
Contudo, a URBES ressalta que esse número pode não representar a realidade, já que muitas vítimas acabam não denunciando. “Temos que esclarecer que a grande maioria das vítimas não faz registro do assédio por constrangimento, o que prejudica em muito a nossa estatística. Apesar de sabermos que fatos como esses ocorrem com certa frequência, temos a informar que pouquíssimas vezes a URBES e as operadoras são acionadas,” explica o órgão.
Como forma de coibir os casos, os ônibus da cidade têm à disposição um sistema de monitoramento por imagens, que ajuda a identificar os agressores. Mulheres que forem vítimas de assédio ou agressão podem utilizar o aplicativo por telefone Citta Mobbi para denunciar, por meio do Botão de Incidentes Grave – BIG.
“O BIG possui um alerta em nossa CCO Transporte informando o tipo de ocorrência, o local, o veículo e a linha. Ademais, os nossos condutores são treinados a parar o veículo no primeiro Posto Policial, caso seja alertado pela (o) usuária (o) dos fatos que estão ocorrendo no interior do coletivo,” garantiu a URBES.
Como pedir ajuda
Para as mulheres que forem vítimas de algum tipo de violência podem procurar ajuda na Delegacia de Defesa das Mulheres, além de procurar auxílio na sede do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, localizado na Juscelino Kubitscheck de Oliveira, nº440, e pelo telefone (15)3235-6770.
A mulher que precisa utilizar o botão do pânico, deve estar sob medida protetiva. Após isso, a vítima precisa comparecer ao Centro de Referência da Mulher (Cerem), onde é feito o cadastro no programa “botão do pânico”. Após o cadastro, é feito o download do app e a equipe do Cerem irá dar as orientações necessárias para uso. Vale lembrar que a vítima em medida protetiva precisa ter um celular que tenha, no mínimo, uma configuração 5.0 e dados móveis, já que a mesma é monitorada pela GCM constantemente, conforme divulgou a municipalidade.