Pais denunciam professora da E.E. Baltazar Fernandes no Ministério Público
- 09/03/2018 às 15:51
- Atualizado 12/09/2022 às 15:51
“Meu filho adorava ir para a escola, era animado. Hoje ele chora e passa mal”. Estes são os relatos de alguns pais dos alunos da turma C do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Baltazar Fernandes, na Vila Santana. Segundo os pais, dos 33 alunos da turma (que têm entre cinco e seis anos), ultimamente apenas dez têm entrado na sala de aula, enquanto o restante chora muito, urina e chega a vomitar, quando chegam em frente à escola. Tudo isso é causado pelo medo de uma das professoras, que não terá sua identidade revelada. O relato dos pais é que a professora constantemente grita com os alunos, não os deixa ir ao banheiro, os priva de conversarem entre si ou de frequentarem o parquinho e não dá tempo suficiente para que eles terminem a lição, e isso tem assustado os alunos. Com medo de represálias, os pais também pediram para não serem identificados, mas procuraram o Jornal Z Norte para reclamarem. Junto com uma advogada, eles registraram um boletim de ocorrência e uma representação no Ministério Público (MP) foi protocolada.
Ainda segundo os pais, a primeira semana de aulas, em fevereiro, foi tranquila. “A reunião foi ótima, ela foi simpática e nem parecia que iria agir assim. Foi a partir da segunda semana, que as crianças começaram a chorar, que percebemos o problema”, relata uma mãe. “Ela fala que gosta da professora, mas que ela grita muito, e que não consegue fazer a lição, porque ela escreve e já apaga”. Desde pelo menos a segunda quinzena de fevereiro, a maioria dos alunos, ao chegarem na porta da escola, passam mal e se recusam a entrar. “Tenho duas crianças lá, uma no segundo ano e outra no primeiro. O menino mais velho vai normalmente, mas o outro, já chegou a ficar na esquina, vendo o irmão ir, mas não foi. Ele chega a tremer de medo”, conta outra mãe. “Você não sabe o que é, à noite, antes de dormir, seu filho te perguntar: ‘mãe, amanhã você vai trabalhar?’, e eu respondo ‘por quê, filho’? E ele fala: ‘porque eu não quero ficar sozinho, não quero ir para escola. Estou cansado de engolir o choro quando a professora grita’”.
Problema antigo
Quando os pais perceberam que as crianças da mesma turma estavam se recusando a irem para a escola, montaram um grupo no WhatsApp para conversarem sobre o caso. “E esta não é a primeira vez que isso acontece. Conversamos com outras mães, e isso ocorre há pelo menos três anos”, conta outro pai de aluno, que é terapeuta. “Quando nosso corpo físico se machuca, isso causa uma cicatriz. Quando nosso corpo interior se machuca, isso também cria uma cicatriz. Imagine o problema que isso está causando na mente deles?”, questiona. Segundo eles, a mãe de um aluno que está no segundo ano passou pelo mesmo problema e acabou desistindo de prosseguir com a denúncia. “Ela disse que no ano passado tinha reclamado, mas que não adiantou nada”, contam.
Os pais contam, ainda, que duas alunas negras da turma foram separadas pela professora. “Minha filha conta que elas têm que sentar juntas e fazem todas as atividades juntas. Outro dia, um dos meninos da sala agachou e, na hora de levantar, acabou batendo a cabeça na carteira. Ele contou para a professora e ela disse: ‘bem feito. Na próxima você presta mais atenção’. Minha filha chega em casa e conta tudo para mim”, afirma uma mãe.
Na Justiça
Buscando amparo legal para resolver o problema, o grupo de pais se uniu para pagarem uma advogada para cuidar do caso. Foi com ajuda dela que os pais registraram um boletim de ocorrência e, ainda, protocolaram uma ação no MP, no último dia 6. “Meu papel é provocar a Polícia e o Judiciário a investigarem o caso e buscarem provas de como a professora se comporta dentro de sala. Não temos provas físicas do que acontece, mas todas as crianças relatam a mesma coisa”, ressalta Beatriz Farrer, que está cuidando do caso. “Nossa intenção é que a professora seja afastada do cargo até que as investigações sejam concluídas”.
Questionada, a promotora da Vara da Infância e da Juventude, Cristina Palma, informou, no último dia 8, que a ação protocolada ainda não havia chegado ao seu conhecimento, “mas, se tudo isso for comprovado, é algo grave. Devo tratar deste caso com urgência, inclusive, podendo ouvir a diretoria da escola, os professores, os pais e as crianças”, ressalta.
Respostas
A reportagem entrou em contato com a unidade escolar. A diretora, Solange Aparecida Moraes Rodrigues, conversou por telefone e esclareceu que fez uma reunião com os pais e conversou com a professora. “Eu estava em férias, mas a vice-diretora tomou conhecimento do caso. Os alunos estão tendo aula normalmente”. Os pais confirmaram a reunião, mas disseram que a professora em questão não foi autorizada a participar. “Eles não nos deram nenhuma resposta. Sentimos que a professora está sendo protegida”, ressalta uma das mães. Sobre o comportamento da docente, a diretora negou que ela tenha separado as duas alunas negras e que impeça os alunos de irem ao banheiro. “Isso não existe. A gente até combinou com os pais, para que um por dia, ou um por semana, venham assistir a aula”. O relato deles, porém, é que apenas um período de aula foi autorizado.
Já a Secretaria Estadual de Educação enviou uma nota sobre o assunto. Nela, afirma que “a Diretoria Regional de Ensino (DRE) de Sorocaba já se reuniu com a professora e elaborou um termo de orientação para ser aplicado durante as aulas”. Ainda segundo a nota, não há registros anteriores de problemas com a docente.