O bonde elétrico, primeiro transporte coletivo de Sorocaba, completa cem anos

O bonde elétrico, primeiro transporte coletivo de Sorocaba, completa cem anos Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 04/01/2016 às 16:00
  • Atualizado 12/09/2022 às 16:00
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Sorocaba sempre esteve ligada à história, participando de forma ativa e dinâmica dos principais acontecimentos mundiais. Seja nos tempos atuais ou há cem anos, a cidade é reconhecida como referência em modernidade, recebendo inclusive a alcunha de “Manchester Paulista” no período da Revolução Industrial no Brasil. Conta a história que em 30/12/1915 o primeiro meio de transporte coletivo, um bonde elétrico, trazido pela São Paulo Elétric Company, circulou em Sorocaba.

Giotto Pannunzio, avô do prefeito Antonio Carlos Pannunzio era o chefe de tráfego da São Paulo Elétric Company e foi designado pela empresa para acompanhar todas as obras de instalação e o funcionamento do bonde elétrico na cidade. “Giotto Pannunzio já prático nesse mister, é que foi, por essa razão, transferido de São Paulo para Sorocaba, na qualidade de chefe de tráfego, com a incumbência de dirigir e completar os serviços de instalação dos nossos bondes”, cita Antonio Francisco Gaspar em sua monografia “Os Bondes elétricos de Sorocaba – Homenagem ao quadragésimo aniversário de sua inauguração”, de 1955.

A São Paulo Elétric Company foi responsável também por construir a ponte sobre o Rio Sorocaba que viria a interligar o Centro ao aos bairros do “além-ponte”, onde estavam as vilas operárias, cuja população era composta por imigrantes, notadamente espanhóis.

 

Primeira viagem

A primeira viagem aconteceu às 5 horas do dia 30/12/15, conforme noticiou o Jornal Cruzeiro do Sul, sob o comando de Roberto Battaglia, primeiro motorneiro que veio de São Paulo para ensinar os motorneiros locais a pilotarem o bonde.

A passagem custava 200 réis, valor este revertido à Santa Casa de Sorocaba. Mesmo embaixo de chuva, a população acordou cedo para ver a passagem do bonde, narra o jornal. “Os bondes são belíssimos, fechados, com cadeiras estofadas, de palhinha, com pedal apenas à entrada, que fica próxima ao condutor. Este faz a condução e a cobrança, pois os riquíssimos carros são arranjados para isso”, reporta o texto publicado. Assim, os bondes passaram a operar de 20 em 20 minutos, das 5 da manhã às 22 horas.

Avaliado como um transporte barato, passou a ser utilizado pela população operária, e em geral. “Para Sorocaba, onde naqueles tempos não havia ônibus, peruas e outras conduções, além dos carros de praça, coupés, charretes e trolys, os bondes elétricos vieram a calhar, ligando os bairros de Além-Ponte com o alto da Rua da Penha”, explica Gaspar em sua publicação.

 

Bonde aos bairros

Segundo estudos de Gaspar, “os pontos finais das linhas situavam-se no largo da Independência (atual praça 9 de Julho) e no alto da rua dos Morros (hoje Rua Cel. Nogueira Padilha). Segundo Rosalina Burgos em seu estudo denominado ‘Produção do espaço urbano na “era dos bondes”: modernização social e seus efeitos na cidade de Sorocaba (início do século XX)’: até 1928 pouco se alterou o traçado das linha de bondes em Sorocaba. Porém, em 1927, falava-se na construção da denominada “linha de bondes aos bairros”.

“As linhas foram levadas pela avenida General Carneiro até o bairro do Cerrado; e além-Ponte seguiu as ruas Newton Machado, e faziam assim um circuito pelo bairro do Bom Jesus. A São Paulo Elétric estabeleceu também, desvios na rua da Penha e rua Souza Pereira, frente praça Dr. Arthur Fajardo, e levou um ramal até a frente do edifício da Estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Nota curiosa foi que os pobres carros de bois “monstros chiantes” segundo a gíria de antanho, tiveram que só trafegar pelas ruas onde não existiam os trilhos dos bondes elétricos”, cita Gaspar.

Ainda segundo Burgos, entre as décadas de 30 e 40 os bondes serviram ao transporte sob a concessão então estabelecida entre Prefeitura Municipal e a São Paulo Eletric Company. Porém, em meados da década de 50, a referida empresa anunciava à prefeitura a proposta de transferência de todo maquinário relativo ao funcionamento dos bondes elétricos, passando a cobrar pelo fornecimento da energia para a movimentação dos mesmos e também o aluguel do uso dos postes sustentadores dos fios “trolley”, como já acontecia na capital. Caso não fosse do interesse da prefeitura, a Companhia cessaria a prestação dos serviços e alocaria os equipamentos para outras finalidades. A municipalidade assumiu o serviço do transporte com bondes, após uma série de serviços de restauro, tanto dos carros quanto dos trilhos, indicando claramente que a São Paulo Elétric Company havia entregue aquele sistema de transporte completamente sucateado. Em 1959 os bondes foram extintos em Sorocaba.