Especialistas traçam perfil de motoristas que infligem normas de trânsito e apontam caminhos para amenizar tragédias

Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 08/06/2015 às 15:25
  • Atualizado 12/09/2022 às 15:25
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Quase dez acidentes de trânsito por dia em Sorocaba, metade deles com vítimas. As estatísticas apontam que a maior parte dos casos ocorre devido ao fator humano, muitos por imprudência. Dois especialistas ouvidos pelo Jornal Z Norte nesta, que é a última reportagem da série sobre trânsito em virtude do Maio Amarelo, traçam o perfil dos motoristas que infligem as normas de trânsito. Eles também apontam possíveis caminhos para amenizar tragédias que ocorrem diariamente em Sorocaba.

“Para refletirmos sobre o comportamento dos motoristas é preciso analisar o comportamento das pessoas nas grandes cidades e a influência de estar pilotando um automóvel. As pessoas em geral costumam ter um comportamento distinto do habitual quando estão num volante, muitas se tornam agressivas e adotam condutas de risco no trânsito”, afirma o psicólogo Marcos Marinho, da Clínica de Psicologia Sorocaba. “Outra variável importante é a vida moderna, cheia de compromissos, prazos, exigências e a crença de que tempo é dinheiro e, portanto, não se pode perdê-lo. Não podemos esquecer o abuso de substâncias (álcool, drogas e remédios) está por trás de inúmeros casos de acidentes de trânsito” continua.

Há, inclusive, um título para o comportamento. “Este tipo de comportamento situa-se dentro daquilo que convencionamos de “Comportamento de Risco para si e para os outros” e como tal enquadrado na legislação de trânsito”, explica.

Marcos dá os caminhos para amenizar o problema. “A solução passa pela combinação de três fatores, educação cidadã (nas escolas), campanhas de conscientização similares às do tabaco e controle social mais rígido (pelos órgãos de trânsito e justiça), com penalização e incentivo a denúncia anônima. O motorista infrator num primeiro momento necessita ser contido e penalizado e posteriormente tomar consciência do risco que ele coloca  para si e para os outros. Sem isso, a sensação de impunidade o fará  repetir tal comportamento”, termina o especialista.

Quando os motoristas ignorarem a legislação, eles apenas agem por impulso? Outra especialista na área concorda, mas com ressalvas. “Na minha percepção, ignorar a legislação do transito envolve alguns fatores, dentre eles: características de personalidade como a impulsividade e a agressividade, mas há outras questões vinculadas a falta de educação no trânsito;  placas de sinalização mal conservados, por exemplo”, pondera Fernanda Andrade de Freitas Salgado, psicóloga, perita e examinadora do trânsito, doutora e mestra em avaliação psicológica.

Sobre as causas dos acidentes, Fernanda também mantém posicionamento parecido com relação ao colega, mas cita outros fatores. “Algumas pesquisas sinalizam acidentes de trânsitos normalmente associados ao transtorno da dependência química, mais especificamente o alcoolismo. Entretanto, a transgressão às regras do transito também podem estar associadas as pessoas que trabalham muito e ficam com a atenção diminuída (as vezes por excesso e/ou sobrecarga) – estresse laboral, por exemplo.  É sabido que entre os adolescentes o índice de acidentes no transito é maior do que entre pessoas mais maduras”, argumenta Fernando, que também é docente no curso de psicologia no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, em Salto.

Mas como mudar esse comportamento? A especialista também opina. “A mudança de comportamento poderia ocorrer em duas frentes. A primeira seria um trabalho mais “remediativo”, ou seja, inserir em currículos da educação básica, conhecimento vinculados a educação no transito uma vez que muitas pessoas transgridam regras por não saber o que é preciso ser feito, como por exemplo, atravessar as ruas e não usar a faixa de pedestre. Ainda nesse caso, as secretarias de transito dos municípios poderiam investir em espaços físicos em que as crianças pudessem usufruir e desenvolver diferentes ‘papeis’ no transito, seja como motorista/motociclista, ciclista, pedestre e/ou gestor. Seria como montar uma mini cidade com vias publicas, estacionamento, entre outros aspectos”, explica.

“A segunda opção seria mais paliativa, ou seja, as punições dadas aos motoristas por excesso de velocidade poderia estar associada a participação em grupos de conscientização como uma medida socioeducativa para além da proibição de dirigir por um determinado tempo sancionado pelo órgão responsável.

Para Fernanda, os municípios, através de seus gestores, têm papel fundamental na diminuição dos casos. “É papel dos gestores responsáveis e capacitados, avaliar o transito na sua condição atual e planejar e executar ações de otimização pensando na mobilidade humana, nem que para isso pense em sistemas de bonificação para o motorista que deixe o carro na garagem por pelo menos um dia da semana, não apresente nenhuma multa no período de um ano, bonifique as pessoas educadas e gentis no transito, além de pensar na infraestrutura necessária para isso (frota de ônibus, outras linhas, qualidade de vias), entre outros”, termina.