Sorocabanos sem emprego: o desemprego que afeta principalmente os mais jovens

Sorocabanos sem emprego: o desemprego que afeta principalmente os mais jovens Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 10/10/2019 às 16:54
  • Atualizado 12/09/2022 às 16:54
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 O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgou na última semana a nova edição da seção Mercado de Trabalho, da Carta Conjuntura. O documento demonstra uma retração de 0,7 % na taxa de desemprego dos mais jovens no país. Apesar da queda pouco expressiva, o grupo de trabalhadores mais novos continua sendo o mais afetado pelas altas taxas de desemprego e instabilidade no trabalho.

De acordo com a pesquisa divulgada pelo IPEA, uma em cada quatro pessoas do grupo entre 18 e 29 anos estão desempregados, o que representa uma margem de pelo menos 25,6% dos trabalhadores dentro da faixa etária.

Do ensino médio ao diploma de nível superior, os jovens recém-formados também precisam se preocupar com outra estatística, a da instabilidade no emprego. “Os micro-dados de transição, mais uma vez, ratificam um ambiente menos favorável para esse grupo da população no mercado de trabalho, dado que esse segmento ainda é o que possui a menor probabilidade de ser contratado, além de ter a maior chance de ser demitido,” garante o estudo.

A Prefeitura Municipal foi questionada sobre informações referentes ao desemprego com o recorte etário, porém o último levantamento disponível foi realizado pela municipalidade em março deste ano.

O geógrafo Victor Falasca comentou sobre os últimos dados apresentado pela entidade de pesquisa. “A famosa matemática da manipulação de dados, dando a sensação de que ‘reduziu’ então o movimento é este, o que não é.  É importante a gente entender como os dados são analisados, o que são realmente analisados,” esclarece.

Com as taxas de desemprego em alta entre os mais jovens, conseguir uma posição no mercado tem se tornado uma tarefa cada vez mais complexa, que demanda mais do que apenas um diploma. A economista Dannyra Mendonza Cuello, ressalta algumas dessas questões, que geralmente estão atreladas a falta da primeira oportunidade.  “Existem múltiplas barreiras que dificultam a inserção dos jovens no mercado trabalho, entre elas a falta de experiência. Uma vez que as empresas precisariam capacitar à mão de obra para torná-la qualificada para sua produção, isto elevaria o custo e como resultado o mercado prefere pessoas que tenham experiência,” analisa.

Esse é o caso do estudante de engenharia química, Gabriel Hortega. O jovem realizou um programa de intercâmbio na Espanha para aprimorar o currículo, mas desde que voltou ainda não conseguiu a tão desejada vaga. “Faz 2 meses que voltei e comecei a procurar estágio na área. Eu consegui participar de uma entrevista, mas não fui chamado. E acho que tem muita concorrência na área, tem poucas vagas para muitos estudantes,” afirmou.

O futuro engenheiro está no oitavo semestre da graduação, sem perspectivas, o jovem decidiu se dedicar a atividades pro bono, para adquirir experiência. “O trabalho voluntário que eu consegui também pela faculdade e é na área, para ganhar mais experiência até conseguir um estágio remunerado,” ressaltou.

Sobre os dados liberados recentemente, a economista Mabel Diz Marques ressalta o papel principal do poder público de amenizar os impactos desse cenário do desemprego. “Tais resultados são alarmantes, pois é um forte indicativo de falta de políticas públicas contínuas e direcionadas à inserção e manutenção dos jovens no mercado de trabalho,” escancara a especialista, que é respaldada pela também economista Dannyra, “existe uma necessidade de mudanças institucionais e construção de políticas públicas dirigidas para criar maiores oportunidades para os jovens, para ampliar o potencial de inserção e inclusão dos jovens”

Para tentar reverter esse cenário, a Prefeitura Municipal declarou que há duas ações em prática neste momento para suscitar novas oportunidades para os jovens. Time do Emprego, onde durante dez encontros, são apresentadas técnicas de direcionamento ao mercado de trabalho, sugestões para aperfeiçoamento de habilidades e produção de um bom currículo, além de dicas de comportamento e postura durante as entrevistas de emprego. Outra iniciativa municipal são os cursos da Universidade do Trabalhador, Empreendedor e Negócios. “A Uniten oferece cursos gratuitos de qualificação ou requalificação profissional, priorizando, durante a distribuição de vagas, os munícipes que estão desempregados. Os cursos oferecidos pela Uniten são relacionados às necessidades do mercado de trabalho local, levantadas pelo Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT),” explicou, em nota, a municipalidade.

 

 

No último semestre da faculdade de comunicação, Ana Carolina Montoro se prepara para encarar em breve o mercado de trabalho. Sobre a falta de perspectiva, o jovem já começou a pensar em saídas. “Para falar a verdade eu fico um pouco nervosa pensando em como vai ser depois de formada, mas eu tenho a expectativa de não ficar muito tempo fora do mercado e de pelo menos encontrar uma vaga na área. Existem oportunidades em outros lugares também. Eu estou mais disposta a mudar de cidade, ou estado para exercer a profissão,” salientou Ana Carolina.

“Acredita-se que essa taxa de desemprego entre os jovens permaneça em níveis elevados nos próximos anos, e provavelmente que muitos deles que estão desempregados continuem com um período prolongado de desemprego. Devido, dentre outros fatores a implementação de um conjunto abrangente de reformas institucionais,” especula a economista Mabel sobre o futuro.

 

Emprego informal e o salário inferior

Assim como o número de jovens sem emprego, outro marcador que teve aumento foi o de pessoas em situação informal de trabalho, que traz junto os problemas de baixas remunerações. Para o professor universitário Alessandro Jordão, o mercado de trabalho continua fragilizado e sustentado à custas de subutilização da força de trabalho, subemprego e salários mais baixos. “Outro movimento relevante é que o crescimento na ocupação foi puxado pelo número de empregados sem carteira assinada e pelo trabalho por conta própria, majoritariamente informal, isto é, a transição do desalento para o desemprego e do desemprego para o emprego é reflexo do crescimento da informalidade, que intensifica a desigualdade econômica e social entre os brasileiros,” observa Jordão.

Sem registro em carteira, uma possibilidade, pelo menos para os que possuem carteira de habilitação, é se cadastrar em aplicativos que prestam serviços de motorista ou entrega, porém essas vagas podem ser o espelho da desigualdade, como afirma a especialista. “Serão os jovens com faixa de renda mais baixas e em condições socioeconômicas menos favoráveis que sofreram níveis mais altos de tais políticas. Resultado, que ampliará essa mão de obra em atividades informais ou por conta própria, tais como os aplicativos de entrega, como Uber Eats, Loggi, iFood, Rappi, entre muitos outros, com o objetivo em última instância em sobreviver diante da crise que ainda assola o país,” finaliza Mabel.

Com o desemprego ainda em alta para quem começou a vida de trabalho há pouco tempo, se torna cada vez mais comum se deparar com um jovem diplomado -engenheiros, advogados, professores, publicitários, entre outros- atrás do volante do próximo carro que você pedir em um aplicativo, já que por hora, o cenário político e econômico não tem mostrado outras oportunidades para esse grupo.

 

Empresas vem e vão

Além das dificuldades de arrumar emprego, alguns trabalhadores precisam se preocupar com as demissões em massa. Na última terça-feira (01), a Wobben Windpower Indústria e Comércio LTDA anunciou o encerramento das atividades de produção de pás eólicas e geradores de energia na cidade. A multinacional já havia demitido cerca de 90 funcionários em maio deste ano. Segundo divulgado, antes das demissões em massa a empresa tinha um quadro com 370 pessoas contratadas.

A notícia do fim dos trabalhados da fabricante alemã antecedeu a aprovação de dois projetos de lei apresentados pela Prefeitura Municipal sobre incentivos fiscais que visam atrair novas empresas para a cidade.

A Câmara Municipal aprovou os dois projetos em uma sessão extraordinária, na última quarta-feira (02). As iniciativas preveem isenção de até 100% nos impostos para novas companhias que se instalarem em Sorocaba. O secretário de desenvolvimento econômico, Robson Coivo, esteve na sessão extraordinária e comentou, que apesar da aprovação do projeto de lei, a prefeitura não tem previsão de criação de novos postos de trabalho. “São expectativas futuras, o que nós temos são algumas empresas que estão prospectando a cidade,” afirmou.

O chefe da pasta de desenvolvimento econômico salientou que as medidas municipais podem significar uma nova possibilidade de criação de vagas para os trabalhadores mais jovens, que são os mais afetados pelo desemprego no país. “Eu não tenho dúvida. Quando você cria um atrativo de incentivos para empresas você precisa de mão de obra. Paralelamente, a nossa secretaria tem se preocupado com a qualificação para reinserir as pessoas em situação de desemprego no mercado de trabalho, são políticas públicas,” relatou Coivo.

E a esperança da vinda de novas empresas para cidade tem motivado alguns jovens que ainda não conseguiram uma nova oportunidade. O paraibano Gerson Silva, 24, está há dois meses desempregado, após deixar o cargo de supervisor em uma empresa que produzia refrigerantes em Sorocaba, onde trabalhou por seis anos. Nascido em Conde, região litorânea do estado, o jovem se mudou para o sudeste depois de conseguir uma bolsa de estudo na cidade. Sem emprego, Gerson precisou trancar o curso e já cogita voltar para sua cidade natal.  “Eu não tenho família aqui, então, se não arrumar alguma coisa logo vou ter que voltar embora. Eu recebo o seguro desemprego até dezembro, depois só Deus sabe se eu vou continuar aqui,” desabafou.