Claudinei da Silva, a celebridade do semáforo

Claudinei da Silva, a celebridade do semáforo Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 14/11/2014 às 10:46
  • Atualizado 12/09/2022 às 10:46
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Definitivamente ele virou celebridade na Zona Norte. As buzinadas se multiplicaram, os gritos de cumprimentos também. As vendas, graças a Deus, como diria ele, também acompanharam a escalada.

Claudinei da Silva foi personagem principal de uma reportagem publicada pelo Jornal Z Norte em 3 de Outubro. Mais do que isso, ele foi o personagem principal da edição. Para se ter ideia do sucesso, as visualizações do post com a reportagem teve dezenas de milhares de visualizações. Curtidas quase somaram seis mil. Já os comentários passaram de oitocentos. E os compartilhamentos passaram de mil e novecentos. Foi uma verdadeira guinada. “Teve muita gente que não parava no semáforo, mas agora pára. As pessoas me respeitam mais”, garante Claudinei. ‘Teve muita gente que pegou o jornal e veio aqui me dar parabéns. Fiquei muito feliz”, conta.

Em meio a tanta euforia e a centenas de comentários sobre Claudinei, algo chamou a atenção: não havia se quer uma fala com críticas negativas ou ressalvas ao trabalho do vendedor. “Um dia mudei o trajeto de casa só para apresentar ele para o meu filho, o cara é sensacional”, comentou Nelson de Oliveira. “Muitas vezes que passei onde o Claudinei estava vendendo os doces, parei no semáforo e comprei, mesmo tento balas na bolsa, só para ouvir as palavras de Deus. Ele é um sábio”, acrescenta Débora Scatolin dos Santos.

Diante de tamanha repercussão, o Jornal Z Norte buscou saber um pouco mais sobre a vida do vendedor, hoje o retrato da simpatia da Zona Norte da cidade.

 

O lar

A chegada ao extremo do Jardim Guadalupe, ao lado da margem de um pequeno córrego foi calorosa. “Regina, o homem da reportage tá aqui”, gritou uma das vizinhas, anunciando que estávamos no local. As edificações em madeira predominam e não se trata de jatobá e jacarandá tratado, nem é puramente opção. Claudinei e Moisézinho, um dos filhos, nos recepciona. “Que bom que chegaram. Como passaram o final de semana? Venham aqui conhecer a Regina, minha esposa”, convida sorridente o agora simplesmente anfitrião. A casa é bucólica, de tão simples chega a anestesiar. O quintal está impecavelmente limpo. O interior da residência não fica por menos.

Claudinei já perdeu as contas de quantas vezes perdeu móveis e teve a família e a dignidade ilhada no  local. “Teve vezes que saímos de bote. Desanima. Não dá para fazer nada aqui”, diz. A água e a luz no pequeno lugar vem do improviso coletivo. “Mas eu fico contente e alegre. Meus filhos estão com saúde e estou levando a palavra de Deus para o povo”, lembra.

Aos poucos, os filhos vão dando a cara. Aparece Rafaela, vem Michele, mas falta uma. A casa, que se resume a um cômodo, onde colchões, armário e fogão ficam lado a lado, as divisórias estão apenas no campo do imaginário, quando não, dos sonhos.

No semáforo, Claudinei já presenciou batidas, colisões e até assaltos. No local onde mora, porém, já houve tristeza ainda maior, quando perdeu sua sobrinha em uma enchente. “Quando cheguei aqui, só tinha mato. Carpi e levantei a casa”, conta. Eram dois cômodos, mas um foi cedido para a enteada, que possui criança pequena e não tinha condições de sustentar aluguel.

 “Não tenha vergonha do lugar onde a gente mora. Sempre falo isso para eles (os filhos)”, diz. “Um dia Deus abre as portas”, acrescenta. O doceiro tem razões para continuar acreditando. Não é a toa que a terceira filha, que agora entre em cena, se chama Vitória. E as portas se abriram. A dona Regina Célia Cardoso, com quem vive há mais de vinte anos, foi contemplada em um dos projetos de habitação popular de Sorocaba e em breve a família terá um novo lar, longe do córrego que mata, longe da enchente que assusta, como as registradas com as últimas chuvas.

O Z Norte acompanhou na sexta-feira (6) a entrega do último documento que faltava na lista de solicitações que fazem parte das exigências para a aquisição do imóvel – uma procuração. Por não ter intimidades com as letras, dona Regina não assinará a documentação do imóvel, que agora só aguarda liberação bancária, fato irrelevante diante de tamanha mudança.