CASA DE PAPEL: Operação da Polícia Civil alterou rotina na Prefeitura e causou baixas no secretariado

Imagem por Jornal Zona Norte e Texto por Jornal Zona Norte
  • 13/04/2019 às 17:30
  • Atualizado 12/09/2022 às 17:30
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“Uma manhã, eu acordei / e encontrei um invasor”. O verso da canção italiana Bella Ciao é trilha sonora de um dos principais seriados policiais da atualidade – mas também retratou o que a Prefeitura de Sorocaba vivenciou na última semana. Nas primeiras horas de segunda-feira (8), equipes da Polícia Civil, do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) – um braço do Ministério Público (MP) –  deflagraram a Operação “Casa de Papel”, que investiga supostas fraudes envolvendo a Secretaria de Licitações e Contratos (SELC), a Secretaria de Comunicação e Eventos (SECOM) e a Secretaria de Cultura e Turismo (SECULT). Os indícios são de favorecimento em licitações. Os contratos somam mais de R$ 25 milhões.

Dezenas de documentos foram apreendidos e, de acordo com o MP, cerca de dez pessoas foram levadas à delegacia, para prestar depoimentos. Entre eles, Hudson Zuliani, Eloy de Oliveira e Werinton Kermes, chefes das respectivas secretarias envolvidas, além de empresários Felipe Bismara, proprietário de uma prestadora de serviços à Prefeitura – e Antonio Bocalão Neto, proprietário do jornal Gazeta do Interior. Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, a Polícia Civil visitou a casa dos investigados e, ainda, interditou o Paço, desativando servidores, sob suspeita de invasão e desvio de informações.

 

Depoimentos e autuações

Os três secretários negaram envolvimento no caso, mas somente Werinton Kermes quis gravar entrevista. O então chefe da pasta de Cultura, além de alegar inocência, disse que era apenas o executor dos contratos, mas que não sabia detalhes das licitações. “Eu apenas executava o contrato, mas não sabia de mais nada. Minha única preocupação era essa”, ressaltou. Os bens dos três foram bloqueados pela Polícia Civil.

Já Felipe Bismara foi autuado por porte ilegal de munição. Isso porque na casa do empresário foram encontradas diversas armas e munições. Bismara apresentou a documentação para as armas, no entanto, o endereço informado para alocação dos artefatos era diferente. Foi arbitrada uma fiança de R$ 10 mil, e o empresário foi liberado.

 

Investigação interna

Ainda na segunda-feira, José Crespo, em entrevista, alegou desconhecer o esquema de corrupção investigado. “Serei o primeiro a apresentar denúncia e colocar na cadeia se alguma irregularidade for comprovada”, destacou. Na ocasião, Crespo salientou que não afastaria ninguém do cargo, mas que determinou uma investigação interna, através da Corregedoria. “Espero que nos próximos dias isso seja esclarecido. Fui pego de surpresa”, afirmou.

 

Mudanças

Mesmo assim, a Operação causou mudanças no secretariado sorocabano. O primeiro a deixar seu posto foi Werinton Kermes, que apresentou, um dia após a operação, uma carta de exoneração. Kermes ainda, confessou estar desgastado desde a realização do último Carnaval. Ele também escreveu uma carta aos servidores com quem trabalhou, que organizaram uma despedida. “Despeço-me de vocês aqui com sentimentos muito fortes e muito representativos destes dois anos que marcaram a minha passagem pela Secretaria da Cultura. Posso assegurar que liderar este projeto, em meio a tantos desafios, foi um aprendizado único, que valeu a pena e vou levar essa experiência para o resto da vida”, destacou.

Hudson Zuliani também entregou a carta de exoneração a José Crespo, na quinta-feira (11). Nela, Zuliani afirma estar com a consciência tranquila. “Nunca pratiquei qualquer ato que pudesse desonrar sua administração ou trair a confiança da população sorocabana e repilo, com indignação, a tentativa de me envolverem em ações de terceiros, que são alheias a minha pessoa”.

Já Eloy de Oliveira foi afastado do cargo. Com as baixas, o atual secretário de Esportes, Simei Lamarca, acumula a pasta de Cultura. Gilberg Antunes assume a SECOM e Rosângela Arcuri, até então Diretora de Área na Secretaria de Educação, substituirá Hudson Zuliani. A Polícia Civil segue investigando o caso.